Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

Escuridão - Capítulo I

Arte: Autor desconhecido

Escuridão - Capítulo I



Virou-se novamente na cama, para o lado esquerdo, desta vez. Continuava sem conseguir dormir. Que horas seriam? Há quanto tempo tentava dormir sem qualquer sucesso? Decidiu acender a luz do candeeiro, encontrou os óculos às apalpadelas e conseguiu finalmente ver no despertador que passava das três da madrugada. Em vez de continuar a tentar dormir, pegou num livro começado há muito e decidiu sentar-se na cama para ler até que o sono ganhasse. Mas não conseguiu. Aquela simples atividade, ler, era algo que, em breve, já não iria conseguir fazer.
Como poderia ela dormir depois daquela notícia que caiu como uma bomba na sua vida? Então, decidiu, para tentar compreender e aceitar os factos, rever em memória o percurso que a trouxera àquele ponto. Fora há cinco anos a primeira vez que consultou o oftalmologista. Na escola, tinha sentido dificuldade em ler o que se escrevia no quadro, não conseguia distinguir quase nada ao longe e tinha cada vez mais dores de cabeça sem qualquer explicação. O médico fez todos os exames e testes necessários. Enviou-a para ser consultada por outro médico no hospital com o objetivo de investigar as razões de tal situação numa rapariga de apenas dezasseis anos. Três semanas mais tarde, os resultados chegaram: teria de usar óculos em razão de uma grave miopia. Estranhamente, esta doença tinha-se desenvolvido muito rapidamente no caso dela, o que era inabitual. No entanto, nada mais fora identificado. As dores de cabeça eram só uma consequência da má visão.
Teria terminado o problema se tudo se estabilizasse por ali, mas não foi o caso. Nos cinco anos seguintes continuou a ver cada vez menos, cada vez menos claramente. O médico continuou a receitar testes, novos óculos, com correção cada vez mais forte. E nesse dia, pelo fim da tarde, a notícia caíu-lhe em cima como se o próprio céu, como se o mundo, o seu mundo, estivesse a despedaçar-se. Sofria de uma doença rara para a qual só existe uma consequência: iria ficar cega. Dentro de pouco tempo, talvez seis meses, talvez um ano, já não iria conseguir ver o mundo, já não lhe seria possível ler, ver o rosto das pessoas que amava, admirar paisagens, estudar, viver sozinha. Iria precisar de ajuda, de reaprender cada gesto banal da vida para adaptar-se à escuridão.
Como poderia ela conseguir dormir depois de uma tal notícia? O seu namorado, adormecido a seu lado, nada sabia ainda, nem os seus pais que viviam perto. Não tinha conseguido falar a ninguém da notícia. Ainda não conseguira aceitar, ainda não queria acreditar na realidade da situação e falar a alguém, contar o que se passava, explicar as consequências, teria significado tornar tudo mais real, mais inevitável. Ainda não estava pronta para as perguntas, ainda não tinha força para evidenciar uma postura de coragem às pessoas que a rodeavam. Iria esperar um pouco, umas semanas, até conseguir dizê-lo. Ocorreu-lhe que talvez nunca fosse encontrar coragem para falar. Mas afastou a ideia rapidamente. Não queria começar a duvidar disso também.
Continua no dia 28 de setembro…
Dulce Morais
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19 comentários:

  1. Dulce,adorei poder ler o conto,ainda não tinha tido tal prazer.E fiquei boquiaberta! Amei! Ansiosa pela continuação!
    Beijinhos!

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    1. Muito obrigada, Danka!
      É uma honra poder contar com a sua leitura!
      Beijinhos!

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  2. Estou aguardando curiosa a continuidade. Me senti um pouco como a menina do livro, pois tenho dez graus de miopia e sei o quanto é horrível enxergar pouco. Tadinha! vamos ver o que acontece! Muito bom!

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    1. Espero que a continuação lhe agrade, Jana!
      Descobri que temos algo em comum: a miopia!
      Muito obrigada pelo incentivo!

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  3. Olha eu realmente gostei, sem demagogia nenhuma. É bom! Só tem que aprimorar, ao meu ver (rs), algumas coisinhas. Vc usa muito o 'e' (releia para ver) para ligar as frases, deve-se usar o gerúndio. Destaquei um exemplo "situação e falar a alguém" para "situação falando a alguém". Fica melhor. Ou tirá-los substituindo por vírgulas. Esse por ex é desnecessário "E nesse dia, pelo". Depois senti uma pequena falta de estrutura na história. Ele tem 16 anos e morando com o namorado? ok, pode acontecer. Porém, vc cita que fez exames desde a escola, mas com 16 anos ainda está na escola, logo, é como ela ainda estivesse fazendo exames...
    Eu aumentaria um pouco a idade da protagonista, fica mais coerente...
    Enfim, seu texto por hora é tocante. Está indo bem. Parabéns.

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    1. Para esclarecer, digo, fazendo os mesmos exames.

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    2. Caro Leandro,
      Antes de mais, obrigada pela leitura e pelo comentário tão completo.
      Devo dizer que, deste lado do oceano, o gerúndio não se utiliza da mesma forma. Porém, é verdade que está na minha tendência natural utilizar o "e" com frequência.
      Em seguida, penso que não leu atentamente. A personagem não tem 16 anos. Veja bem o "Fora há cinco anos"...
      Quanto à consistência da história, sugiro ainda aguardar a continuação, mas sobretudo o desfecho.
      Há pormenores que devem ser mantidos na... escuridão, para serem revelados no momento certo.
      Espero que os capítulos seguintes continuem de lhe agradar.
      Abraço!

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    3. Quando li esse 'fora a cinco anos' remeteu-me a primeira vez que ela havia consultado o médico. Depois parece que vc complementou sobre na paragrafo debaixo. Porém não lembro desse complemento. Enfim.
      Quanto aos 'e', pode-se substituir por vírgulas, ou até mesmo tirá-los como eu disse, se não gosta de gerúndios. Fica quebrada a narração com a ligação do 'e'. Enfim.
      Mas isso não desqualifica em nada seus escritos. O intuito era de ajudar, assim como espero que alguém o faça quando lê algo meu.
      Do mais, abraço.

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  4. Maravilhoso Dulce ! Já começa prendendo o leitor deixando-os com sede de próximos capítulos. Tenho certeza que vai ser tão bom, se não melhor que o seu último romance publicado... parabéns ! Um grande abraço ( estou aguardando )

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    1. Muito obrigada, Sandro!
      Fico muito feliz que esteja gostando e impaciente de conhecer a sua opinião sobre este conto!
      Grande abraço!

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  5. Muito bom Dulce!Uma escrita envolvente e cheia de imaginação...
    Deixo beijinhos!!!

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    1. Muito obrigada, Cristina!
      Espero que venha a gostar da continuação!
      Beijinhos!

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  6. Dulce, gostei imensamente do começo, mas não tive como ler o restante pq o fundo preto com letras cinzas(?) me impossibilitou. Bjos e boa semana.

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    1. Caro Eder,
      Lamento que esse facto tenha impedido a sua leitura. Já corrigi esse ponto e espero que não seja mais um problema.
      Grande abraço!

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  7. Dulce, fico na expectativa de saber o que acontecerá de seguida com esta personagem! Como sempre, gosto do que a tua escrita transmite: o sentir! Beijinhos

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    1. Obrigada, Isa!
      Espero que venhas a gostar dos próximos capítulos!
      A tua leitura é importante para mim!
      Beijinho!

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  8. Oi Dulce, parei e fiquei pensando são tantas coisas que podem nos arrancar o chão. E se não aprendemos desde sempre a cultivar a fé ficamos em completa escuridão.

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