Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

PERCALÇOS...Por Danka Maia

PERCALÇOS



Ela abriu a porta jogando as chaves sobre o criado mudo como quem se livrava de um peso. Jogou-se na velha cadeira e logo que suas mãos repousaram sobre o velho tecido outra vez volveu a memória a ele. Foi impressionante rememorar vendo o dia em que chegou ofegante com a mesma nos braços num tempo que ainda não havia elevadores no prédio. Seu rosto  tinha vontade, satisfação e contentamento pelo dever cumprido de ter lhe dado algo que sabia ser  tão importante para ela, e pensou:" _Como podem ser as pessoas!"
Por um segundo refletiu sobre a discussão que tiveram pelo mesmo assunto não duas, três e sim diversas vezes. E sentiu-se cansada. Porque faz parte da condição humana, cansar-se depois de tantas tentativas pela exaustão do mesmo agente sempre conduzido ao nada. E viu o quanto o tiro desta vez tinha acertado em cheio o alvo dos seus sentimentos. Notou-se decepcionada, não com a circunstância, dado a isso era bem tolerante, entretanto por ter  demandando tanta energia ao que estava tão aclarado como o sol de uma razão perdida e sem alicerces.
Viu que ninguém muda. Ninguém evolui. O ser humano e sua visceral inclinação para o egoísmo estão pré-dispostos em seus genes. Tola percebeu fora ela. E quando o telefone tocou a primeira vez reconhecendo o número, o desgosto era tamanho que torceu a face para o lado jogando o objeto em cima da cama do pequeno apartamento. Fosse lá o que ainda precisasse ser dito, uma coisa tinha certeza, para ela não fazia mais a menor diferença. Era um tempo que não desejava mais perder haja vista que os preciosos já não mais poderiam ser resgatados.
Suspirou, ergue-se e foi para o banho. Fez seu macarrão instantâneo de costume acompanhado do moletom com a marca de tomate que não conseguira remover, juntou os pés ao corpo ligando a televisão e na terceira garfada, a Campainha tocou. Apressou-se  pensando na amiga que viria para contar as novidades de seu noivado,no entanto,não era.Para seu espanto,era um menino com o buquê de rosas brancas em simbolismo de paz.Assinou o cartão, deu a gorjeta pelo sorriso do garoto, e ao olhar as flores,não deixou de ponderar outra vez:"_Como podem ser as pessoas!"
Foi durante a madrugada que o telefone fixo tocou insistentemente e então a intimou a atender e era sua mãe avisando que o fato se dera numa esquina perto de sua casa, quando ele atravessou o sinal e pelo infeliz acaso um ônibus colidiu ao seu veículo ceifando- lhe a vida.
 Arrumou-se e fez seu papel. Lá esteve, ouvindo, consolando, e ao se despedir no derradeiro Adeus o olhou na face inerte e pálida e nada  proferiu, talvez porque não havia o que se dito,e o que importava já fora ou se perdera ou quem sabe  jamais fez diferença para ele.
Em pé jazia seu espírito contemplando em petição que ela dissesse qualquer palavra, contudo, o último vocábulo  foi:silêncio.
Dos seus olhos quanto dos deles uma única semelhança proferida em seus pensamentos foi:
_Como podem ser as pessoas!
E se foram, cada um para seus destinos. Por intolerância,medo,não sei.As pessoas cansam e disto agora eu sei.





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