Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

PORQUE O PARA SEMPRE, SEMPRE ACABA. por Danka Maia



 


Necessariamente nem sempre foi nesta ordem. Antes de Tony o arquiteto encontrar-se com Linda dez anos mais tarde, ela era uma mera dona de casa, exime cozinheira, amava e decidira ter Nuno como pai de seus filhos e companheiro eterno e o fez,tiveram três lindos filhos, duas meninas e um menino. Nuno era um cara agressivo e talentoso, isso se explicara no ramo que escolhera com a carreira como advogado. Cria que aos cinquenta anos começaria enfim a regozijar-se das coisas que alcançara ao longo de árduo esforço e trabalho. E então surgiu Agnes, vinte e sete anos, flor morena, olhos de mel, lábios de Jolie e corpo escultural. Não houve jeito, Nuno se apaixonara por ela, de certo modo a moça o fazia reviver uma idade perdida ora pelo trabalho ora por ser pai de família. E sim, Agnes também o amou de coração, não era do tipo que precisava de um pote de ouro, era independente, porém queria amar.

E o fim e o começo vieram. O fim de uma vida a dois e o início de outra.

Linda viu seu mundo ruir ali diante de si, impotente, sem saber que para sempre, sempre acaba. Tentou de tudo, mudou o corte de cabelo, guarda-roupas, perfumes, batom mais  ousado, atitudes,no entanto, as vezes a vida te faz compreender que episódios que te dilaceram tem sim uma finalidade que só o Destino um dia poderá ou não te explicar.Um casamento de quinze anos havia terminado.

Dez anos depois, Nuno estava morando com Agnes. Linda se refizera  usando seus dotes culinários e sendo proprietária da melhor  padaria do bairro. OS filhos do ex-casal seguiram suas vidas. A mais velha estava noiva, o rapaz saindo da faculdade e a caçula indo para o colegial. Pareciam que tudo estava superado até que Linda  quis reformular seu apartamento  começando pelo banheiro dos seus sonhos.Banheira enorme, apenas uma cuba.Enfim poderia tirar dali o  derradeiro espinho da carne, as cubas para ele e para ela que tanto a atormentaram aqueles anos. O escritório escolhido era de Arthur, um velho amigo dela e Nuno,contudo o arquiteto escolhido fora Tony. Viúvo, sem filhos, que de cara soube que se apaixonara por ela.

Idas e vindas houve a festa dos pais para o filho que saira da faculdade reuniria depois de anos na mesma sala Nuno e Linda, que agora namorava Tony e Agnes que agora era a senhora de Nuno e que tinham um filho de sete anos, o pequeno Lino.E então aquele momento esquisito só quem já passou por esse  andamento conhece veio.Nuno dançar outra vez com Linda.Ele a convidou com um riso sem graça, meio sem jeito,mas notou que algo nela estava muito diferente.

_Cabelos mais longos?- a indagou.

_Mas curtos na verdade.- o rebateu se ajeitando em seu ombro outra vez.

_Você está muito bonita. Sempre fazendo jus ao seu nome, Linda!- gracejou para descontrair. - _Não usa mais a fragrância de Lavanda?- estranhando o novo aroma de sua pele.

_Faz tempo que passei usar a de pêssego. - Linda admitiu enquanto a música "Quem de nós dois" rolava como companhia.

_Eu gostaria de... - a voz dele embargou.

_Sim?- Ela insistiu.

_Pedir desculpas talvez. Não sei ao certo. - Algo havia se volvido dentro dele.

_Eu quero lhe agradecer.- Linda foi assente.Nuno estranhou a natureza de sua colocação e retrucou:

_Agradecer?

_Sim Nuno, apesar das três lindas bênçãos que me deu, nossos  filhos, longe, pude ver a pessoa que me omiti ser por uma amor descabido a você.Eu cresci,reciclei, produzi,evolui e só Deus sabe onde posso chegar.- deixando o tom radiante de sua voz.

Foi quando viu Tony e pedindo licença simplesmente soltou os braços dele indo ao encontro de agora seu amado. Agnes que via a cena pode notar o que jazia ali claro, talvez por falta de vontade dela ver o lógico,porque sim, o lógico as vezes dói e nem sempre queremos vê-lo.

Mas Agnes viu enfim. Viu no olhar de Nuno para Linda o quanto ele nunca fora dela e o quanto jamais seria pois o agora seu marido amava a não velha e sim outra mulher.As lágrimas brotaram nos olhos e os braços apertou contra si como quem se auto acalentava.Nuno por sua vez, viu o quão tolo tinha sido.Não porque não amava Agnes mas por não ter percebido que jamais poderia amar outra mulher como amara Linda.

E a Tony restou somente dizer quando a recebeu nos braços para prosseguir aquela dança:

_Vamos aproveitar meu amor.Porque o para sempre também um dia acaba. _ e a beijou docemente.
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CADA UM TEM A SORTE QUE MERECE por Danka Maia



 


Durvalina era uma pessoa daquelas que todo mundo conhece, tem por perto ou longe de si,mas já viu em algum momento da vida.A questão era que desde seu nascimento Durvalina recebeu como herança o título de "Azarada da família". Todos pensaram que seria um menino depois de nove mulheres na linhagem e receberia a alcunha de João Felipe de Costa Abrantes, porém, veio a garotinha franzina e a esperança de todos por água abaixo. A mãe desolada falou ao pai que colocasse um nome lá qualquer, no caminho para cartório, o homem fumou todos os cigarros que jaziam no bolso esquerdo de sua calça de linho. Na procura por mais um,não encontrando, adentrou na primeira birosca,apontou para a primeira cartela de cigarros irritado e quando levou a boca, a chupeta do diabo era tão ruim que tratou de ler o nome da marca,e adivinham qual era? Durvalina.

Os anos foram passando pela vida da mulher, tendo que ver a irmã mais velha acertar na loteria depois que encontrou um trevo de quatro folhas. Indagada e instigada pelo povo dizia o mesmo de sempre:_ Cada um tem a sorte que merece! _ seguindo a vida como uma mera diarista.Criando os filhos, até que a vizinha ofereceu um coelho,no entanto na hora de passar o bichano pela cerca da casa, um infeliz incidente fez com que o rabinho do felpudo branquinho fosse ceifado e onde foi que ele caiu? No quintal da vizinha, que no dia seguinte recebeu a notícia de uma herança de um parente tão distante que nem a dona sabia que tinha.Outra vez questionaram Durvalina pela sua falta de sorte e outra vez ouviram:_Cada um tem a sorte que merece!

Passados anos de vendo trevos, rabos de coelhos, fechaduras, figas e tantas outras coisas que o povo diz dar sorte, foi numa madrugada que a senhora dessa história encontrou a sua. Devia ser lá pelas três da manhã, aquela hora que todo mundo que faz uso do remédio de pressão conhece. Temos que ir ao banheiro!_Pensou consigo e o chinelo de pano.Lá estava Durvalina esperando o tempo passar quando sem querer bateu os olhos numa figura quase transparente no fim do batente de sua porta azul céu. Na primeira vez que olhou, achou estranho. Lá nos seus adágios ponderou:

_Gente, isso existe?­_ Sim existia. A questão era que era rara e por isso a diarista não tinha se deparado anteriormente. Aliás, como muitas coisas na vida que julgamos não existir pelo simples fato de jamais ter visto. Ela era mediana, branquinha, olhos pretos grandes para seu porte e bem negros.

Durvalina danou a gargalhar logo que teve certeza do que era.Riu tanto da barriga doer. O que estava ali a sua frente tratava-se de uma barata albina. Cuidadosamente, apanhou um frasco vazio de vidro e encurralou a cucaracha no recepiente. Na manhã que inicou-se não houve no bairro quem não quisesse ver a tal barata albina que apelidou carinhosamente de Sortuda.E juntos com a multidão vieram os comentários:

_Mas como? Eu que ganhei na loteria, viajei o mundo inteiro,nunca vi um inseto assim? -Quis compreender a irmã rica.
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CRIANÇAS "MENAS" COR por Danka Maia






Bartira vivia com suas filhas Onófra e Amélia numa fazenda onde era cozinheira. Morava numa pequena casa feita de barro e folhas de bananeiras como pagamento além do direito de uma cambuca de leite diariamente. Bartira era descendente direta do Quilombo de Zumbi dos Palmares. Era comum conversar com as meninas em Orubá, língua nativa de seus pais e avós, do mesmo modo também muito comum no fim da tarde depois de voltar da casa grande, apanhar os mesmos livros abandonados no celeiro e com a permissão da Sinhá Joaquina leva-los para seu casebre e ler com suas filhas, um regalo que aprendera com sua antiga ama, avó da sinhá, que a ensinou ler e escrever.

Houve um dia que uma das meninas, Amélia, perdeu a hora e foi apanhar o leite que tinham direito, muitas vezes o único alimento até que sua mãe voltasse da cozinha da sede á tardinha. No entanto, havia outra regra, a Sinhá Joaquina só permitia que o resto do leite fosse dado-as sem a sua presença, uma vez que era comum que a senhora cavalgasse e depois seguisse para o curral para beber sua fresca caneca de leite. Porém, naquele dia Joaquina deu de cara com a garota, que imediatamente abaixou a cabeça como sinal de hierarquia.

_Ô José, eu já não lhe falei que não suporto dividir meu território com essas crianças remelentas de "menas" cor? O que essa menina faz aqui?- Num tom nada amigável e visivelmente irritadiço.

_A Sinhá me perdoe. - Respondeu o moço preocupado, despachando logo Amélia que voltou chorando para casa, sentida, humilhada e com sua cambuca de leite que se misturou as lágrimas tão dolorosas.

Ao chegar, deixou o recipiente em cima da pia improvisada pela mãe deitou-se em sua cama feita de colchão de folhas de bananeiras e pranteou abundantemente. Por coincidência naquele dia também a mãe voltou para casa mais cedo. E quando Bartira viu e ouviu a história da filha a acalmou com aquele jeito que só mãe tem, só colo de mãe possuí só palavra de mãe tem o poder de consolar o nosso coração. Depois de apaziguar a filha, olhou dentro dos olhos e disse a pequena Amélia:

_Filha, não deixe que uma palavra como essa derrube seu coração.

_Mas mamãe a Sinhá me humilhou por minha cor?

_Ela tentou, mas sem êxito, pense.

_Como assim?

A mãe sorriu e continuou:

_Na frase: Crianças de "menas" cor. O que realmente está errado? O fato de referir-se a nós como uma sub-raça por sermos negras ou o fato em que ela sendo uma Sinhá, cheia de cultura e conhecimento não saber que não existe a palavra "menas " e sim e somente menos? Quem realmente seria uma pessoa de menos nessa história? Tanto por conhecimento como por atitude?

Amélia alcançou onde a mãe queria chegar e deixou seu coração livre outra vez.
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Mistério: aparição de cidade flutuante deixa chineses em choque [vídeo]

Moradores da cidade de Foshan, na província chinesa de Guangddong, ficaram intrigados com uma situação nada comum ocorrida na última semana. Aparentemente, uma cidade fantasma apareceu sobre as nuvens da região, surpreendendo a comunidade local.
cidade-flutuante-china
O registro foi exibido em uma rede de televisão chinesa e, segundo informações do site Gizmodo, aparentemente várias pessoas testemunharam o fato que durou apenas alguns minutos. O que está se especulando é que o possível motivo que originou o fato é uma já conhecida ilusão de ótica que produz esse tipo de efeito.
Ainda segundo o Gizmodo, houve um caso parecido com o de Guangdong alguns dias depois, na província de Jiangxi. 
Abaixo do topo não havia o restante dos andares ou a base dos prédios, mas nuvens. Nuvens espessas e cinzentas.”Para alguns, é o primeiro ato do fim do mundo. Para outros é uma rachadura na parede invisível que nos separa dos universos paralelos que nos rodeiam. Para os cientistas é um fenômeno que, apesar de natural, continua sendo quase tão bizarro quanto as outras teorias. Teorias conspiratórias e divertidas.
No vídeo abaixo dá pra ter uma noção do que aconteceu. A hipótese mais provável é de que se trata de uma miragem causada poruma ilusão de ótica chamada Fata Morgana(a explicação desse nome que parece saído da Santa Inquisição ou do Castelo Rá-Tim-Bum vem mais adiante).
Quando uma camada da atmosfera é aquecida pelo Sol mas a camada de baixo permanece fria, essa diferença de temperatura gera diferentes densidades. Quando o raio de luz solar passa de uma densidade pra outra ele é refratado, fazendo com que seu ângulo mude. Apesar da luz estar “entortada”, nosso cérebro não enxerga dessa maneira, interpretando a imagem como se os objetos estivessem no local que estariam se o trajeto da luz tivesse permanecido inabalado.
Confira o vídeo a seguir:
Acredita-se que Morgana foi uma sacerdotisa que viveu na Grã-Bretanha no século V – ela é uma figura recorrente nas fábulas do Rei Artur. A razão dela ter servido de inspiração para batizar o fenômeno é porque, por muito tempo, homens e mulheres acreditavam estar diante de uma experiência mística quando testemunhavam com os próprios olhos a miragem – algo não muito diferente da reação das pessoas hoje após o ocorrido em Jiangxi e Foshan.
Uma das principais lendas dos mares, por exemplo. O Flying Dutchman, ou Holandês Voador, é um navio-fantasma amaldiçoado a navegar contra o vento para sempre, sem jamais conseguir aportar. A lenda foi criada – ou começou a se popularizar – no século XVII e já foi citada e replicada em tudo que é tipo de expressão da cultura pop. Nada mais que Fata Morgana.
Hoje, no lugar da lenda temos algumas hipóteses um pouco mais elaboradas. Há quem diga que o que foi visto na China faz parte do Blue Beam Project (algo como Projeto Feixe Azul). A cidade levitante faria parte do segundo passo (de um total de quatro) desse projeto que teria sido criado pela Nasa para implementar a “nova ordem mundial”, uma era dominada por uma nova religião cujo líder será o anticristo.
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Não podemos deixar de mencionar a seguinte passagem bíblica, em que João “VÊ” uma cidade descer dos céus em eventos futuros! Estaria alguém, tentando criar um momento bíblico em nossos dias e assim anunciar “ALGO NOVO”: 
“E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido”. – Apocalipse 21:2
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A rotina de pessoas que trabalham realizando sonhos de doentes terminais

Uma das coisas mais incríveis nisso de escrever a respeito de pessoas com histórias envolventes é quando, de alguma forma, esses personagens ficam na vida do autor do texto. Quando contei a história da Sabrina Bittencourt, que perdeu a memória durante um almoço de família, acabei tendo mais contato com ela e, há alguns dias, uma publicação de Sabrina no Facebook me deixou pensativa: “Se hoje fosse seu último dia de vida, você estaria fazendo o que está fazendo agora?”, provocou ela. E eu, que estava em casa, assistindo a um filme ruim na TV, pensei: “Não!”.
Estamos tão acostumados com a rotina de trabalhar, estudar, ir para a academia, encontrar alguns amigos e cuidar dos afazeres domésticos de sempre que acabamos nem percebendo a passagem do tempo. Isso sem falar, é claro, na noção equivocada que temos de que viveremos até a velhice. Em teoria, essa é a ideia, mas não há qualquer garantia de que estaremos aqui amanhã para contar história.
E ainda que o mundo esteja passando por todo tipo de problema, é confortante saber que algumas pessoas dedicam a vida a quem já sabe que tem pouco tempo. Assim como a história de Sabrina, que contei aqui no Mega há quase um ano, igualmente inspirador é o trabalho de uma ONG holandesa que você vai conhecer agora.

Atendendo a (últimos) pedidos

Kees Veldboer é um motorista de ambulância e, portanto, já esteve ao lado de muitas pessoas em seus últimos momentos de vida. Em novembro de 2006, quando transportava o paciente Mario Stefanutto de um hospital para o outro, recebeu a notícia de que a nova instituição receberia o paciente com um pouco de atraso.
Stefanutto, que havia passado três meses dentro de um quarto de hospital, obviamente não estava querendo voltar para essa rotina. Veldboer perguntou ao paciente se ele gostaria de ir até outro lugar. O paciente, que era um marinheiro aposentado, pediu para que o motorista o levasse até o canal de Vlaardingen, onde poderia ver a água e se despedir do Porto de Rotterdam.
Quando esse episódio aconteceu, fazia um dia ensolarado, e os dois ficaram observando as águas do canal de Vlaardingen, juntos, durante aproximadamente uma hora. “Lágrimas de alegria rolaram no rosto dele. Quando perguntei se ele gostaria de ter a oportunidade de navegar de novo, a resposta foi que seria impossível porque ele estava deitado em uma maca”, contou o motorista.
Kees Veldboer
A proximidade com o paciente, que estava claramente vivendo seus dias finais, deixou Veldboer determinado a fazer de tudo para que o marinheiro tivesse seu último pedido atendido. Para isso, perguntou ao seu chefe se poderia usar a ambulância em uma de suas folgas, pediu a ajuda de um amigo e entrou em contato com uma empresa que realiza passeios de barco no porto de Rotterdam.
Todos ficaram felizes com a possibilidade de ajudar o aposentado e, na sexta-feira seguinte à transferência do paciente para outro hospital, Stefanutto se surpreendeu com a presença de Veldboer em seu quarto de hospital. Ele nem sabia, mas naquele dia ele velejaria mais uma vez.
Algumas semanas depois do passeio, o marinheiro aposentado morreu. Antes, porém, escreveu uma carta: “Me faz bem saber que ainda existem pessoas que se importam com os outros... Eu posso dizer pela minha própria experiência que um pequeno gesto vindo de alguém tem um impacto enorme”, disse ele.
Primeiro desejo realizado: Mario Stefanutto voltou ao porto.
A partir daí, nasceu a Stichting Ambulance Wens, instituição que Veldboer organizou junto com a sua esposa, Ineke, que é enfermeira. Oito anos depois do passeio de Stefanutto, o casal Veldboer já conta com a ajuda de 230 voluntários e seis ambulâncias. Em oito anos, pelo menos 7 mil pessoas doentes tiveram seus últimos pedidos realizados pelo grupo.
Em média, a instituição realiza quatro desejos por dia e atende pacientes de qualquer idade, contanto que estejam em um estágio final e não possam ser transportados de outra maneira a não ser em uma maca.
Veldboer conta que o paciente mais novo atendido pela Stichting Ambulance Wens era uma garotinha de apenas 10 meses de idade que esteve internada desde o dia de seu nascimento. Seus pais queriam sentar-se com ela, no sofá de casa, pelo menos uma vez. E assim aconteceu.
A paciente mais velha foi uma mulher de 101 anos que queria andar à cavalo pelo menos mais uma vez: “nós a colocamos em cima do animal com a ajuda de um caminhão e depois a movemos para uma carruagem puxada por um cavalo – ela acenava para todos, como se fosse da realeza. Aquele foi um bom pedido”, disse o motorista.
Felizmente, existem outros grupos de pessoas que realizam desejos de pacientes terminais, mas a organização de Veldboer foi a primeira a dar suporte com ambulância e assistência médica completa. Há sempre uma enfermeira a bordo, e o veículo é conduzido por motoristas altamente capacitados, que já treinaram com policiais e bombeiros. Como se não bastasse, a ambulância da Stichting Ambulance Wens tem uma janela para que os pacientes aproveitem a paisagem enquanto são transportados – ao entrarem no veículo, todos são apresentados ao ursinho Mario, que tem esse nome em homenagem a Stefanutto.
O ex-soldado Roel Foppen, que também conduz a ambulância, diz já ter realizado 300 pedidos e garante que esse tipo de ação faz um bem danado a quem participa: “Isso dá a nós, voluntários, muita satisfação”. Em certa ocasião, ele chegou a ir até a Romênia para atender ao pedido de uma paciente chamada Nadja, que tinha morado na Holanda por 12 anos.
De acordo com Foppen, Nadja estava tão doente que a equipe não podia nem ao menos encostar nela. Ainda assim, ela queria ir até a Romênia para poder morrer ao lado de seus filhos, um de três e outro de sete anos. No meio do caminho, a saúde de Nadja piorou e a equipe parou em um hospital. A equipe médica aconselhou que ela ficasse internada, mas o seu único desejo era chegar em casa a tempo de ver seus filhos.
Nadja
A equipe levou o pedido da paciente a sério e, para realizar seu desejo, dirigiu pela Alemanha, pela Áustria, pela Hungria e, quando chegaram à fronteira da Romênia, Nadja disse: “Coloquem a minha maca para fora, agora eu já posso morrer”. Foppen explicou a ela que faltavam apenas 600 km até que eles chegassem à sua casa, e assim ela resolveu esperar. Algum tempo depois, a equipe recebeu um cartão da família de Nadja dizendo que ela havia morrido duas semanas depois de voltar para casa.
Outro fato incrível do trabalho realizado pelos voluntários é a energia de cada paciente, que se renova quando sabe que vai sair com a ambulância de Veldboer.
Outra voluntária, Mariet Knot, que trabalha como enfermeira, afirma que é uma honra dividir esse tipo de momento com os pacientes. “Cada vez é especial. Você discute isso com os seus colegas a caminho de casa e é sempre especial, não importa o quão pequeno seja. Eu conheci uma senhora que só queria uma taça de Advocaat (um licor cremoso de ovo) em casa. Então o filho dela comprou uma garrafa, nós fomos até a sua casa, ela bebeu uma colherada e nós voltamos. Esse era o desejo dela”.
Ineke Veldboer e a marido, Kees.
Knot conta que as pessoas costumam perguntar se trabalhar com doentes terminais todos os dias não é uma atividade exaustiva, emocionalmente falando. “É sim, mas frequentemente as pessoas estão prontas para morrer porque elas estão tão abaixo da linha, e então é legal dar a elas alguma coisa que elas realmente desejam”, explica.
O policial aposentado Frans Lepelaar, que também é um voluntário, explica que muitos dos pedidos incluem voltar para casa, dizer adeus a amigos e familiares e estar presente em casamentos e funerais. Muitos, no entanto, fazem questão de olhar o mar pela última vez. Ele explica que passeios em zoológicos também são pedidos populares – algo em torno de 15% dos desejos.
Um dos pacientes que quis ir ao zoológico foi Mario, um homem de 54 anos que tinha dificuldades cognitivas e gostaria de se despedir dos seus colegas do zoo de Rotterdam, onde havia trabalhado durante 25 anos. Sempre depois de realizar sua jornada, Mario visitava os animais, e na sua última visita ao local não foi diferente.
Mario e a girafa.
Quando a equipe se aproximou das girafas, uma delas caminhou até Mario e lambeu o rosto dele. O homem estava doente demais para falar qualquer coisa, mas a equipe percebeu, pela expressão em seu rosto, que ele estava feliz por ganhar um beijo de uma de suas amigas. A foto, na época, estampou as páginas de alguns jornais holandeses.
“Aprendi que temos que encontrar a felicidade nas pequenas coisas, e esse deveria ser o seu objetivo em vez de desejar aquilo que você não tem”, explica Ofal Exoo, que também trabalha realizando desejos.
“Teve essa senhora que queria ir ao casamento do seu neto. O hospital havia dito a ela que não, mas ela estava desesperada, então no final das contas eles nos chamaram. Nós a levamos até lá e ela amou. No caminho de volta, ela se virou para nós e disse: ‘Vocês não fazem ideia como isso foi importante para mim’”, contou Veldboer. A paciente em questão morreu no mesmo dia.
Parte da equipe de voluntários.
Knot defende a importância do trabalho que ela e toda a equipe realizam e resume isso citando o caso de um homem cujo último desejo era voltar ao centro comercial de sua família: “Toda a família veio ao armazém para dizer adeus a ele na maca. Ele queria ir e ver todas as máquinas, revisitar todos os cantos escuros onde ele havia arrumado coisas. Enquanto a equipe empurrava a maca ao longo do armazém, o resto da família acompanhava, em uma espécie de procissão. Ele [o paciente] tinha dificuldade para se comunicar, porque usava linguagem de sinais – ele e seus três irmãos eram surdos, assim como duas das esposas deles. Então, o motorista [que era um voluntário novo e que sabia usar a linguagem de sinais] começou a falar com as mãos. Foi tão extraordinário! Os familiares falaram que ficaram arrepiados. E então você pensa que coincidências não existem”.


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