Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

Assexual: “Não vejo problema em morrer virgem”


(Arquivo pessoal)
Aos 41 anos, a escritora Luciana Do Roccio Mallon não está nem um pouco incomodada com o fato de nunca ter feito sexo na vida. Os outros é que estão. Antes mesmo de ler esta entrevista, alguns dirão coisas como “ela não sabe o que está perdendo”, outros vão se voluntariar para “resolver o problema”. Acontece que, para os assexuais, morrer virgem não é problema. Porque eles simplesmente não sentem desejo sexual, não têm vontade de dar uns amassos e transar. E isso não tem nada a ver com ser hétero, homo, bi ou transexual. 
Nem com celibato, quando uma freira ou um padre decidem deliberadamente que não terão qualquer atividade sexual - mesmo que dê vontade. Assexuais não tomaram uma decisão, entende? Eles são assim e isso não lhes causa angústia. Podem ter apenas a atração romântica ou mesmo suprir suas necessidades emocionais com uma rede de amigos. Praticam ou não a masturbação (geralmente por impulso fisiológico, não propriamente sexual). Luciana conversou comigo sem demonstrar vergonha ou culpa, contou do estranhamento das pessoas, de como enrolou os ex-namorados…
- Você teve uma educação familiar conservadora? Sexo era transmitido como algo pecaminoso, sujo ou algo do tipo?
LUCIANA – Sim, era conservadora. Desde criança me ensinaram a me proteger dos pedófilos - eu morava num bairro carente na época, onde os estupros não eram raros. Fui ensinada a não deixar adultos tocarem no meu corpo. Mas, na verdade, eu não gostava nem dos toques com brincadeiras das próprias crianças. Bem, eu não podia frequentar baladas e nem namorar na adolescência.
- Em geral, na adolescência, começamos a descobrir nosso corpo e as sensações sexuais, seja se masturbando ou ficando excitado involuntariamente (ao ver uma cena de filme, por exemplo). Isso nunca aconteceu com você?
LUCIANA - Sim, já aconteceu. Quando eu tinha 10 anos, eu comecei a me masturbar, mas não sabia o que era isso. Passei um elefantinho de pelúcia no meu corpo. A sensação foi a mesma de quando coloquei meu dedo numa tomada estragada e levei um choque.
- Como assim? Foi ruim e você nunca mais se masturbou?
LUCIANA - Não foi exatamente ruim, era apenas uma brincadeira solitária. Até os 38 anos, me masturbava quando ficava tensa ou nervosa. Era uma forma de descarregar a tensão. Depois parei, não senti mais vontade.
- Então você deve ter tido orgasmos.
LUCIANA – Analisando hoje, adulta, acredito que sim.
- Você tinha algum impulso sexual, mas não em relação a outras pessoas, certo?
LUCIANA - Sim. Talvez eu tenha ficado mais madura. Não gosto até hoje quando pessoas me tocam.
- Como foi seu primeiro beijo na boca?
LUCIANA - Na faculdade, aos 23 anos. Foi muito ruim. Sonhava que fosse com um namorado e não com um colega de faculdade. Beijei por curiosidade, mas achei a troca de salivas muito nojenta.
-  Você já namorou? Como era a questão do contato físico com o outro?
LUCIANA - Tive meu primeiro namorado com 27 anos e outro, em 2009. Nunca fiz sexo com eles também. Eu os abraça e beijava, mas não gostava muito. Fazia só para agradá-los.
- Eles souberam desde o início que você era virgem?
LUCIANA - O primeiro namorado nunca soube. O segundo ficou sabendo três meses depois, mas não expressou opinião sobre o assunto. Eu sempre tentava contornar a situação, enrolava mesmo. Nunca fui à casa deles nem a lugares isolados, dizia que tinha outros compromissos, que estava com cólicas menstruais, etc.
- Dava a desculpa do “sexo só depois do casamento” também?
LUCIANA – Sim. Posso até me casar com alguém um dia, mas faria sexo só para agradar o marido. E conheço muitas mulheres casadas que fazem o mesmo…
“Ser assexuada é só uma parte da minha personalidade e não me prejudica em nada”, afirma Luciana (Arquivo Pessoal)
- Você ficou três anos, sem sexo, com o último namorado. Acha que ele te traía?
LUCIANA – Como eu entendia que ele era uma pessoa sexual, adotei uma espécie de relacionamento aberto. Eu não considerava traição porque fazia parte do trato. Pelo que pude observar, com as outras ele apenas fazia sexo. Terminamos só porque ele mudou de cidade.
- Pra você, um relacionamento amoroso não precisa de sexo?
LUCIANA - O problema é que a sociedade valoriza demais o sexo. Eu valorizo o amor, o companheirismo, a empatia e, principalmente, a compreensão.
- Como você descobriu que era assexual?
LUCIANA - Vi que era diferente desde a adolescência. Minhas colegas gostavam de ficar com os meninos, eu achava repugnante e vulgar. Também não tinha desejo por meninas, embora me chamassem de sapatão. Eu era tímida e estava longe dos padrões de beleza. Aos 15 anos, me zoavam porque eu era virgem. Em 2004, digitei no Google e no Orkut “adultos virgens” e foi um alívio descobrir que não era a única pessoa no mundo assim. Cheguei a grupos de assexuais e me identifiquei. Comecei a ler pesquisas sobre o assunto.
- O que você acha das pessoas que fazem sexo casual, sem envolvimento amoroso?
LUCIANA -  Eu não condeno o sexo casual. Como disse Johnny Depp: "Feio não é fazer sexo sem amor, feio é fingir amor para conseguir sexo. ”
- Deve ouvir piadas do tipo “não sabe o que está perdendo”, né?
LUCIANA – Desde a adolescência, minhas colegas me zoavam por ser virgem. Algumas já eram mães com menos de 15 anos. Alguns me olham feio porque sou solteirona, mesmo sem saber que sou assexuada. Mas tive problemas piores com duas ginecologistas. Uma delas, durante a consulta, perguntou quando havia sido minha última relação sexual. Respondi que nunca tinha feito sexo. Ela fez cara de espanto e disse: “Nem oral, anal? O cadastro diz que você tem 33 anos! ”. Procurei outra médica, que também ficou surpresa e desconfiada. Quando estava examinando minhas partes íntimas, disse: “Não acredito no que estou vendo! Você é virgem mesmo”. Me senti constrangida de novo, um extraterrestre. Decidi que nunca mais iria a uma ginecologista.
- E a sua família?
LUCIANA – Aceitam e acham até melhor porque assim evito pegar doenças venéreas, corro menos risco de sofrer alguma violência. Minha mãe sempre preferiu que as filhas fossem virgens (mas minha irmã é casada e sexual). Ela tem pavor de ser avó, não curte crianças.
- Algumas assexuadas preferem a ideia de adotar a ter de fazer sexo para engravidar. Você nunca quis ser mãe?
LUCIANA – Não, nunca. Não tenho esse dom. O curioso é que sempre tive pavor de engravidar. Como sou pobre, acho que não teria estruturas para criar um bebê.
- Essa não é a primeira vez que você dá entrevista. Por que decidiu falar publicamente que é assexual?
LUCIANA - Porque é uma forma de a sociedade compreender e aceitar os assexuais. Sou uma pessoa comum que trabalha e estuda. A assexualidade é só uma parte da minha personalidade que, no momento, não me prejudica em nada. Podem comentar o que quiserem que eu não ligo.
- Você gostaria de morrer virgem?
LUCIANA - Não vejo problemas, já que não gosto de sexo.

FONTE;*Nathalia Ziemkiewicz é jornalista, educadora sexual e idealizadora do blog Pimentaria. Quer apimentar o mundo com informação e bom-humor. 
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